domingo, 17 de julho de 2011

Uma pena o Bertolucci não permanecer uma boa parte do resto da sua carreira dirigindo documentários.

Esse segundo episódio de La via del petrolio, definitivamente uma das vias perdidas da vanguarda européia dos anos 60. Bertolucci conjugando Rouch, Rossellini, Perrault, Saraceni, Ivens...

Na volta à Itália após a passagem pelo canal de Suez, uma das poucas ocasiões em que a poesia na maioria das vezes embotada do Bertolucci se desfaz de todo virtuosismo para se liberar na atmosfera chuvosa, nos céus carregados, na luz difusa que banha as ladeiras e as vertentes da costa italiana cruzadas pelo navio-petroleiro; ou ainda a narração que descreve a volta para casa e devolve à paisagem aquilo que há de mais elementar e precioso na poesia - a saber, a expressão de um sentimento não tanto pela inflexão, mas pelo dom do verbo e a própria musicalidade da palavra.

A cena da passagem pelo canal de Suez:

Enfim, não é o único caso de bom cineasta que decaiu desgraçadamente.

5 comentários:

João disse...

Pra voce, a partir de quando o Bertolucci decaiu?

Acho legal ler isto (mesmo nao necessariamente concordando), porque o cinefilo que ta de fora do meio critico e nao tem tanto conhecimento da historia do cinema, as vezes tem a impressao de que tudo é regido pela tal politica dos autores, ou alguma versão dela, em que bons cineastas são bons sempre, mesmo nos filmes "menores", e quem é ruim sempre foi ruim.

O mesmo vale pro Scorsese, parece que tiram leite de pedra pra manter a defesa de que o cara é sempre bom. Nao sei se voce considera que ele decaiu a partir de Cassino, mas acho que foi o ultimo grande filme dele, mesmo que eu lembre de algumas coisas boas naquele filme com o Nicolas Cage e no Aviador, mas de resto nao curto muito nao.

Legal ter voltado com o blog. Suas opinioes e de algumas pessoas que deixam comentarios sao valiosas, sem falar nas dicas de textos e videos pescados na net (como sobre Malick uns 3 posts atras).

Abços

Miguel Marías disse...

De todos los cineastas a cuyo "nacimiento" he asistido, las más graves decepciones han sido Bertolucci y Wenders, que hace mucho (salvo raras excepciones parciales) no hacen nada interesante (a veces ni respetable). De Bertolucci adoro "Prima della Rivoluzione", "La commare secca" y "Partner". A partir de ahí, casi todo me parece falso, artificioso y/o ridículo (se salvan "La tragedia di un uomo ridicolo" y "Besieged"), a veces decididamente indignante ("Il conformista" y sobre todo "The Dreamers") o francamente ridículo (incluso "Last Tango in Paris"). "Partner", "Strategia del
ragno" e "Il conformista" marcan, interesantemente, su transición (o traición). Pero no he visto "La via del petrolio"...
Miguel Marías

Daniel Pereira disse...

Depois dos Cahiers, capa do ípsilon/Público para Abrams também. Duplo uau.

bruno andrade disse...

Jean-Marie Straub, sempre provocador, foi até aos Cahiers du Cinema e, como bom marxista, propôs-lhes comprar a capa para o último filme dele. Responderam-lhe indignados que os Cahiers não estavam à venda. «Pois não», respondeu ele, «já se venderam». A capa dos Cahiers desse mês foi a célebre fotografia do Larry Flint com o homem crucificado nas cuequinhas da senhora.

bruno andrade disse...

João: a partir do Conformista. Depois, exceção feita ao Tragédia de um Homem Ridículo, é o academicismo internacional.

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