Conversando com o Miguel sobre Anatahan, que assisti pela primeira vez ontem.
Curioso esse achatamento espacial geralmente adotado pelos grandes cineastas nos seus trabalhos tardios, que faz com que os filmes se assemelhem a diagramas abstratos, violentamente frontais a ponto de parecerem indigentes - penso nos filmes do Matarazzo com o casal Sanson-Nazzari, em Beyond a Reasonable Doubt, The Human Factor, A King in New York, The Shadow Box, The Naked and the Dead, Sócrates, Psicose, Ohayô, Rio Bravo, The Cavern, Liberty Valance, Anatahan, Filming 'Othello', The Black Scorpion, Night of the Demon, Most Dangerous Man Alive, não coincidentemente obras-primas, misteriosíssimas como tais em vista de todas as limitações (aparentes) de seus estilos; digo "aparentes" porque evidentemente trata-se, na realidade, de dispensar as seduções e os aprazimentos a que as obras anteriores, provavelmente no momento de suas carreiras em que seus estilos floresciam, nos acostumaram, quando talvez ainda tivessem o que provar a si mesmos. Podia falar também dos filmes do Jack Arnold dos anos 50, de Brisseau e Oliveira ou dos primeiros Fassbinder, que mesmo não sendo "últimos trabalhos" correspondem perfeitamente a esse estilo sintético.
Há também o fato, bem lembrado na discussão pelo Miguel, de que além da austeridade e da síntese com que tornam desnecessário enfatizar, demonstrar ou chamar a atenção para o que quer que seja, tais cineastas, desfalcados da série A para uma espécie de "série B extra-industrial", fizeram o único cinema verdadeiramente "indie" e "underground" a partir da escassez dos pressupostos com que atuavam (sucessores: Raoul Ruiz, Luc Moullet, talvez Chabrol).
Última observação: o aplainamento espacial seria, contrariamente ao 3D, a verdadeira culminação de todo grande cinema?
domingo, 31 de julho de 2011
domingo, 17 de julho de 2011
Uma pena o Bertolucci não permanecer uma boa parte do resto da sua carreira dirigindo documentários.
Esse segundo episódio de La via del petrolio, definitivamente uma das vias perdidas da vanguarda européia dos anos 60. Bertolucci conjugando Rouch, Rossellini, Perrault, Saraceni, Ivens...
Na volta à Itália após a passagem pelo canal de Suez, uma das poucas ocasiões em que a poesia na maioria das vezes embotada do Bertolucci se desfaz de todo virtuosismo para se liberar na atmosfera chuvosa, nos céus carregados, na luz difusa que banha as ladeiras e as vertentes da costa italiana cruzadas pelo navio-petroleiro; ou ainda a narração que descreve a volta para casa e devolve à paisagem aquilo que há de mais elementar e precioso na poesia - a saber, a expressão de um sentimento não tanto pela inflexão, mas pelo dom do verbo e a própria musicalidade da palavra.
A cena da passagem pelo canal de Suez:
Enfim, não é o único caso de bom cineasta que decaiu desgraçadamente.