domingo, 31 de julho de 2011

Conversando com o Miguel sobre Anatahan, que assisti pela primeira vez ontem.

Curioso esse achatamento espacial geralmente adotado pelos grandes cineastas nos seus trabalhos tardios, que faz com que os filmes se assemelhem a diagramas abstratos, violentamente frontais a ponto de parecerem indigentes - penso nos filmes do Matarazzo com o casal Sanson-Nazzari, em Beyond a Reasonable Doubt, The Human Factor, A King in New York, The Shadow Box, The Naked and the Dead, Sócrates, Psicose, Ohayô, Rio Bravo, The Cavern, Liberty Valance, Anatahan, Filming 'Othello', The Black Scorpion, Night of the Demon, Most Dangerous Man Alive, não coincidentemente obras-primas, misteriosíssimas como tais em vista de todas as limitações (aparentes) de seus estilos; digo "aparentes" porque evidentemente trata-se, na realidade, de dispensar as seduções e os aprazimentos a que as obras anteriores, provavelmente no momento de suas carreiras em que seus estilos floresciam, nos acostumaram, quando talvez ainda tivessem o que provar a si mesmos. Podia falar também dos filmes do Jack Arnold dos anos 50, de Brisseau e Oliveira ou dos primeiros Fassbinder, que mesmo não sendo "últimos trabalhos" correspondem perfeitamente a esse estilo sintético.

Há também o fato, bem lembrado na discussão pelo Miguel, de que além da austeridade e da síntese com que tornam desnecessário enfatizar, demonstrar ou chamar a atenção para o que quer que seja, tais cineastas, desfalcados da série A para uma espécie de "série B extra-industrial", fizeram o único cinema verdadeiramente "indie" e "underground" a partir da escassez dos pressupostos com que atuavam (sucessores: Raoul Ruiz, Luc Moullet, talvez Chabrol).

Última observação: o aplainamento espacial seria, contrariamente ao 3D, a verdadeira culminação de todo grande cinema?

Um comentário:

Miguel Marías disse...

Sería interesante reenfocar la historia de cine desde el punto de vista de la tridimensionalidad (ya presente en Lumière) y la bidimensionalidad, teniendo en cuenta que muchos cineastas pasan de una a otra, según el planteamiento de cada película, o juegan con ellas dentro de un mismo film (Griffith, Hitchcock, el propio Straub). "Zengiku Monogatari"(1939) y "Genroku chushingura"(1941-2) de Mizoguchi, o "La Règle du jeu"(1939) de Renoir me parecen tempranos ejemplos de ese juego.

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