sábado, 28 de fevereiro de 2015

Por sinal, é quando vejo Un Amleto di meno que vejo alguém triunfando exatamente onde o Tarantino falha nesses filmes Kill Bill dele: ao mesmo tempo o espetáculo e a explosão do espetáculo, onde todas as cores (ou seja: todas as matizes, todas as nuances, todos os contrastes, toda sutileza) são separadas violentamente para se dispersarem e se reencontrarem com ainda mais violência em outros pontos, rebentando nas superfícies saturadas, nos fragmentos magníficos, na fanfarronice da irracionalidade que a todo instante nega qualquer sentido à representação e produz assim uma acumulação torrencial e estridente de anti-signos, totalmente opacos e refratários a qualquer exegese (cf. o plano final).

É Shakespeare trazido ainda mais uma vez ao proscênio, mas desta vez para uma traição completa (não à toa Bene foi pegar logo Hamlet) de todos os pressupostos que o acompanham, o legitimam e o conservam como patrimônio histórico no imenso e indiferente caldeirão de formol da cultura, tudo o que finalmente reduziu Shakespeare e Hamlet a peças de museu (não tem ninguém aqui usando um excedente de referências para se amparar no reconhecimento de inteligências cúmplices, ninguém se escondendo na complacência do espectador culturalmente advertido como nos filmes de vocês sabem quem e em tantos outros filmes feitos hoje por vocês também sabem quem). A agitação dos corpos à beira da convulsão e da afilaxia não é gratuita: é a traição que injeta vigor na tradição, é a pressão do sangue que corre mais uma vez nas veias de personagens tão embotados (o clássico definitivamente não é a asseptização da tradição, Bene deixa bem claro) como Hamlet, Gertrude, Horatio, Ophelia etc.

Para não falar, também, que o Bene realmente faz montagem eisensteiniana, não fica só de panca com um avid e uma estrutura primária de montagem de atrações como, por exemplo, o realizador de Cassino costuma ficar.

E também que é o anti-Gomes, o anti-Martin, o anti-Serra, anti toda essa porra de cinema internacional contemporâneo acadêmico anestésico patrimonialista do caralho.

Em suma, a raridade: um filme verdadeiramente moderno.











quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Berlusconi created the first and only Italian commercial TV empire. He was assisted by his connections to Bettino Craxi, secretary-general of the Italian Socialist Party and also prime minister of Italy at that time, whose government passed, on 20 October 1984, an emergency decree legalising the nationwide transmissions made by Berlusconi's television stations.[19] This was in response to judgements on 16 October 1984 in Turin, Pescara and Rome, enforcing a law which previously restricted nationwide broadcasting to RAI, that had ordered these private networks to cease transmitting.

After political turmoil in 1985, the decree was approved definitively. But for some years, Berlusconi's three channels remained in a legal limbo, and were not allowed to broadcast news and political commentary. They were elevated to the status of full national TV channels in 1990 by the so-called Mammì law.




terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O Obsession, além de ser uma projeção assustadoramente acertada de tudo o que se produziu sob o ensejo do que se convencionou chamar de "maneirismo", desde os seus primórdios (primeira metade dos anos 1970) até a sua inevitável derrocada (anos 2000, entre New Rose Hotel e L'intrus até hoje), é também, e foi o que saltou aos olhos após revê-lo em 35 mm., Hitchcock revisto menos pela colagem modernista do Godard que pela entropia (afinal de contas o filme é sobre acumulação de capital e seus limites físicos e temporais) do Warhol.

Foi mal pela falta do Scope.

Anos 2010

O principal problema da nossa época...
não é nem o problema da História, nem o da Existência, nem o da Estrutura, nem o da Epistemologia, nem o do Cogito, nem o do Psiquismo, nem nenhum dos problemas que invadiram o campo da nossa visão.
O principal problema é:

quanto mais inteligente se é, mais estúpido se é.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Se o objetivo era fazer um filme todo construído em cima de diálogos que só reforçam a inclinação ideológica (demagógica) do projeto, do tipo "Para mim a revista Veja veio sem o plástico" saindo da boca da personagem mais antipática (a que quer foder com o zelador vadio por egoísmo, pois como todos sabemos quem quer despedir a entidade abstrata "zelador pobre" é automaticamente egoísta, canalha, injusto e, portanto, entidade abstrata "leitor da Veja"...) ou "Trabalhe duro" para respaldar o rapaz que, ao contrário da mãe faxineira (e obviamente evangélica), não vai à igreja (puta transgressão numa época de hegemonia religiosa esmagadora como a nossa...), ou em cima de simbolismos esclarecedores (ou seja, perfeitamente inúteis enquanto símbolos) como o vovô latifundiário com barba de Matusalém (afinal a injustiça é eterna...) nadando com os tubarões (i.e. os seus pares) na madrugada, então o Cronenberg foi completamente bem-sucedido com Maps to the Stars.

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